quarta-feira, 20 de abril de 2011

            O SENHOR DA MINHA FÉ 


(Frei Betto, Brasil)
Não creio no deus dos magistrados, nem no deus dos generais, ou das orações patrióticas.
Não creio no deus dos hinos fúnebres, nem no deus das salas de audiências, ou dos prólogos das consti­tuições ou dos epílogos dos discursos eloqüentes.
Não creio no deus da sorte dos ricos, nem no deus do medo dos opulentos, ou da alegria dos que roubam do povo.
Não creio no deus da paz mentirosa, nem no deus da justiça impopular, ou das venerandas tradições na­cionais.
Não creio no deus dos sermões vazios, nem no deus das saudações protocolares, ou dos matrimônios sem amor.
Não creio no deus construído à imagem e semelhança dos poderosos, nem no deus inventado para sedativo das misérias e sofrimentos dos pobres.
Não creio no deus que dorme nas paredes ou se es­conde no cofre das igrejas. Não creio no deus dos natais comerciais nem no deus das propagandas colo­ridas. Não creio no deus feito de mentiras, tão frágil como o barro, nem no deus da ordem estabelecida sobre a desordem consentida.
O DEUS da minha fé nasceu numa gruta. Era judeu, foi perseguido por um rei estrangeiro, e caminhava errante pela Palestina. Fazia-se acompanhar por gente do povo; dava pão aos que tinham fome; luz aos que viviam nas trevas; liberdade aos que jaziam acorrenta­dos; paz aos que suplicavam por justiça.
O DEUS da minha fé punha o homem acima da lei e o amor no lugar das velhas tradições.
Ele não tinha uma pedra onde recostar a cabeça e confundia-se entre os pobres...
O DEUS da minha fé não é outro senão o Filho de Maria, Jesus de Nazaré.
TODOS OS DIAS ELE MORRE CRUCIFICADO PELO NOSSO EGOÍSMO.
TODOS OS DIAS ELE RESSUSCITA PELA FOR­ÇA DO NOSSO AMOR.
(Extraído do livro Salmos Latino-Americanos)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

BULLYING - Por Rubem Alves



                                               
O termo BULLYING compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.

A palavra inglesa Bullying ainda não tem uma tradução para o português, mas significa valentão, brigão, ameaça ou intimidação e, embora seja ainda pouco conhecida, refere-se a uma prática freqüente nas escolas




Eu fui vítima dele. Por causa dele, odiei a escola. Nas minhas caminhadas passadas, eu o via diariamente. Naquela adolescente gorda de rosto inexpressivo que caminhava olhando para o chão. E naquela outra, magricela, sem seios, desengonçada, que ia sozinha para a escola. Havia grupos de meninos e meninas que iam alegremente, tagarelando, se exibindo, pelo mesmo caminho. Mas eles não convidavam nem a gorda nem a magricela. "Bullying" é o nome dele. Dediquei-me a escrever sobre os sofrimentos a que crianças e adolescentes são submetidos em virtude dos absurdos das práticas escolares, mas nunca pensei sobre as dores que alunos infligem a colegas seus. Talvez eu preferisse ficar na ilusão de que todos os jovens são vítimas. Não são. Crianças e adolescentes podem ser cruéis."Bullying." Fica o nome em inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que "bullying" diz. "Bully" é o valentão: um menino que, por sua força e sua alma deformada pelo sadismo, tem prazer em bater nos mais fracos e intimidá-los. Vez por outra, crianças e adolescentes têm desentendimentos e brigam. São brigas que têm uma razão. São acidentes. Acontecem e pronto. Não é possível fazer uma sociologia dessas brigas. Depois delas, os briguentos podem fazer as pazes e se tornar amigos de novo. Isso nada tem a ver com "bullying". No "bullying", um indivíduo - o valentão - ou um grupo escolhe a vítima que vai ser seu "saco de pancadas". A razão? Nenhuma. Sadismo. Eles "não vão com a cara" da vítima. É preciso que a vítima seja fraca, que não saiba se defender. Se ela fosse forte e soubesse se defender, a brincadeira não teria graça.

A vítima é uma peteca: todos batem nela e ela vai de um lado para outro sem reagir. Pode-se fazer uma sociologia do "bullying" porque ele envolve muitas pessoas e tem continuidade no tempo. A cada novo dia, ao se preparar para a escola, a vítima sabe o que a aguarda. Até) agora, tenho usado o artigo masculino, mas o "bullying" não é) monopólio dos meninos. As meninas também usam outros tipos de força que não a dos punhos. E o terrível é que a vítima sabe que não há jeito de fugir. Ela não conta aos pais, por vergonha e medo. Não conta aos professores porque sabe que isso só poderá tornar ainda pior a violência dos colegas. Ela está condenada ? solidão. E ao medo acrescenta-se o ódio.

A vítima sonha com vingança. Deseja que seus algozes morram. Vez por outra, ela toma providências para ver seu sonho realizado. As armas podem torná-la forte. Na maioria dos casos, o "bullying" não se manifesta por meio de agressão física, mas por meio de agressão verbal e de atitudes. Isolamento, caçoada, apelidos. Aprendemos com os animais. Um ratinho preso numa gaiola absorve a informação rapidamente. Uma alavanca lhe dá comida. Outra alavanca produz choques. Depois de dois choques, o ratinho não mais tocará a alavanca que produz choques. Mas tocará a alavanca da comida sempre que tiver fome. As experiências de dor produzem afastamento. O ratinho continuará a não tocar a alavanca que produz choque ainda que os psicólogos que fazem o experimento tenham desligado o choque e tenham ligado a alavanca comida.

Experiências de dor bloqueiam o desejo de explorar. O fato é que o mundo do ratinho ficou ordenado. Ele sabe o que fazer. Imaginem, agora, que uns psicólogos sádicos resolvam submeter o ratinho a uma experiência de horror: ele levará choques em lugares e momentos imprevistos ainda que não toque em nada. O ratinho está perdido. Ele não tem formas de organizar o seu mundo. Não há nada que ele possa fazer. Seus desejos, imagino, seriam dois. Primeiro: destruir a gaiola, se pudesse, e fugir. Isso não sendo possível, ele optaria pelo suicídio.

Edimar era um jovem tímido de 18 anos que vivia na cidade de Taiúva, no Estado de São Paulo. Seus colegas fizeram-no motivo de chacota porque ele era muito gordo. Puseram-lhe os apelidos de "gordo", "mongolóide", "elefante cor-de-rosa" e "vinagrão", por tomar vinagre de maçã todos os dias, no seu esforço para emagrecer. No dia 27 de janeiro de 2003, ele entrou na escola armado e atirou contra seis alunos, uma professora e o zelador, matando-se a seguir.

Luis Antônio era um garoto de 11 anos. Mudando-se de Natal para Recife por causa do seu sotaque, passou a ser objeto da violência de colegas. Batiam nele, empurravam-no, davam-lhe murros e chutes. Na manhã do dia fatídico, antes do início das aulas, apanhou de alguns meninos que o ameaçaram com a "hora da saída". Por volta das 10h30, saiu correndo da escola e nunca mais foi visto. Um corpo com características semelhantes ao dele, em estado de putrefação, foi conduzido ao IML (Instituto Médico Legal) para perícia.

Achei que seria próprio falar sobre o "bullying" na seqüência do meu artigo sobre o tato que se iniciou com: "O tato é o sentido que marca, no corpo, a divisa entre os deuses Eros, do amor, e Tânatos, da morte. É por meio do tato que o amor se realiza. É no lugar do tato que a tortura acontece". O "bullying é a forma escolar da tortura.


Fonte: Portal Aprendiz

terça-feira, 5 de abril de 2011

Conheças doenças mentais desenvolvidas por causa do estresse

Combinação de medicamento e terapia ajuda a aliviar sofrimento do paciente


O estresse, na opinião de boa parte dos psiquiatras, não precisa necessariamente ser tratado com remédios. Pode ser resolvido com psicoterapia e mudanças no estilo de vida. Mas as doenças mentais que surgem a partir do estresse, como depressão, Síndrome do Pânico e transtorno de ansiedade generalizada, pedem, sim, acompanhamento psiquiátrico. O neuropsiquiatra Rubens Pitliuk, do Hospital Albert Einstein, explica que medicamentos acabam com os sintomas físicos e melhoram a qualidade do sono. "Com isso, a pessoa tem mais cabeça fria e energia para procurar soluções", diz.

depressão é marcada por um profundo e constante sentimento de desesperança e desespero, que interfere na capacidade da pessoa trabalhar, estudar, dormir, comer e realizar atividades antes prazerosas. 
Depressão ocorre em homens e mulheres de qualquer idade - Foto: Getty Images
A doença ocorre em homens e mulheres de qualquer idade. Porém, acomete mais as mulheres. Há de duas a três mulheres deprimidas para cada homem. Não se sabe ao certo o motivo disso. Os médicos acreditam que haja influência de fatores genéticos e hormonais. Mas também pode ser que a doença nos homens não seja bem reportada, já que eles tendem a procurar menos ajuda. A depressão masculina está mais relacionada à irritabilidade, à raiva e ao abuso de drogas e álcool.

De todas as doenças psiquiátricas, a depressão é a que melhor responde ao tratamento com remédios, com bons resultados em cerca de 85% dos casos. Há diversos tipos de medicamentos usados para tratar a depressão. A maioria alivia os sintomas ao aumentar o fornecimento de substâncias químicas, chamadas neurotransmissores, para o cérebro. Os remédios demoram cerca de duas semanas para começar a fazer efeito e não podem ser abandonados repentinamente, ou há grande chance de recaída.  
Conheças doenças desenvolvidas por causa do estresse - Foto: Getty Images
Já a Síndrome do Pânico é caracterizada por crises de aproximadamente dez minutos em que a pessoa sente tremores, boca seca, taquicardia, falta de ar, mal estar na barriga ou no peito, sufocamento e tonturas, entre outros incômodos. A psicóloga Adriana de Araújo ressalta que quem sofre do mal vive em constante sobressalto, pois não sabe quando os ataques virão. "Além disso, é muito frequente a sensação de que algo trágico, como a morte súbita ou o enlouquecimento, estão por acontecer".

Os tratamentos, de acordo com Adriana, normalmente mesclam o uso de medicamentos receitados por psiquiatras e técnicas de terapia comportamental cognitiva. A especialista diz que o processo de cura leva entre seis meses e um ano, pelo menos. "A melhora costuma ocorrer entre duas e quatro semanas, mas as alterações biológicas demoram meses para desaparecer. Se o tratamento for interrompido nos primeiros sinais de melhora, 80% dos pacientes vão sofrer recaídas em quatro a seis semanas", alerta. 
Por último, o transtorno de ansiedadegeneralizada traz um sentimento de agonia inexplicável, que pode estar associado a frio na barriga, aperto no peito, coração acelerado, tremores e falta de ar. Normalmente crônica, acompanhando o paciente por vários anos, a doença causa uma preocupação exagerada com diversas atividades do cotidiano, comprometendo a vida social e profissional da pessoa.

Segundo Pitliuk, para tratamentos curtos usam-se ansiolíticos. "Mas eles não podem ser tomados por muito tempo por causa do risco de dependência", pondera. Quando a utilização de remédios precisa ser feita por um longo período, prefere-se antidepressivos, neurolépticos ou betabloqueadores, diz. O neuropsiquiatra recomenda ainda psicoterapia, meditação, ioga, tai chi chuan, além de mais prazeres e menos deveres na vida.